08 março 2010

Dia internacional da mulher - Crônica

Já sonhei em ser modelo, atriz, cantora ou qualquer coisa que me colocasse num palco. Já até fiz curso de modelo, depois curso de TV, depois aula de canto, mas tudo isso durou pouco, não fui atrás de nenhum desses sonhos.

Não, eu não uso maquiagem. Talvez porque ao longo do tempo eu tenha aprendido a me aceitar assim, quase exatamente como sou. Talvez porque eu me ache, hoje, mais bonita do que realmente sou. Talvez porque eu não fique esperando a opinião do outro para me sentir assim. Quando eu me olho no espelho, fico feliz no papel de mim mesma.

Sim, eu gosto de aparecer. Isso me diverte e me faz levar a vida menos a sério.

Tenho muitas roupas, sou consumidora compulsiva e ainda estou me curando, lentamente, que é como as verdadeiras curas funcionam. E a cura está em expor meus exageros, transformando o vício em uma coisa boa. Já gastei demais, já me endividei, já sofri por isso, já me culpei. Depois descobri que me culpar só me faria insistir no vício e aí aprendi a me perdoar.

Já sofri por amor, muitas vezes. Já fiz sofrer também. E já perdi amigos, amigas, sei que vou perder mãe, pai, avós, filhos no início da gestação e até namorados, estou sujeita a tudo, assim como qualquer pessoa. Poderei me separar. E isso pode ser bom. Depois disso vou encontrar o amor da minha vida e vou perdê-lo de um dia para o outro. Não, não vai ser fácil. Mas vou reencontrar a alegria. Não morrerei com ele.

Eu só terei a agradecer. Porque amei e fui amada. Porque vou ter um filho que ao sorrir me mostra que valeu a pena. Tá, poderão faltar algumas coisas, mas sempre sobrará amor. E não faltará dizer nada. Nem ouvir.

Já vivi muitas coisas e não me canso de me surpreender com a vida.

Às vezes eu me sinto sozinha, mas não me assusto mais com isso, tenho me achado uma ótima companhia.

Eu me orgulho. Não das minhas perdas, mas da maneira como lido com elas. E de estar completando alguns anos de auto-análise.

Eu já fui filha mais nova de uma família. Já fui mimada. Já fui insuportável. Não fui ouvida. Eu me sentia abandonada. Só falava em tom de choro. Sim, eu me senti feia. Eu cortei os cabelos acreditando que isso iria me deixar melhor. E isso me libertou. Sim, foi uma alegria descobrir que a beleza estava dentro de mim, e não nos cabelos.

Já me tatuei algumas vezes. Isso também me liberta e me ajuda a levar a vida de um jeito mais leve.

Óbvio, eu gosto de me vestir bem. E demorei muito tempo para entender que isso era prioridade pra mim.

Gosto de moda. Não a moda ditada pelo último São Paulo Fashion Week. Gosto de moda na coleção que eu mesma lanço ao fazer minhas escolhas. Gosto do desfile que começa a cada dia na hora de me vestir e essa é a minha forma de fazer moda.

Eu não sou modelo, mas poso de modelo e me mostro sem medo. Ah, e as fotos não têm retoque de photoshop. Eu não tenho uma equipe para me vestir nem para me maquiar.
Eu gosto de aparecer e adoro elogios. Eles fazem do outro o meu espelho e isso é muito bonito. Sei elogiar também e sempre que o faço, é sincero.

Estou em lua de mel com a modelo que existe em mim. Que tem olheiras, varizes, cabelos brancos, rugas, barriguinha e nenhuma maquiagem, ou não.
Eu convivo diariamente com uma ou outra frustração e nenhuma é grande o suficiente para me fazer infeliz. Vejo pessoas à minha volta e muitas delas sofrem também.

E de vez em quando sinto inveja, mas quando isso acontece, procuro a saída mais bem-humorada. É muito bom quando você consegue dar ao outro apenas o melhor que está em você, e eu consigo isso.

Eu ouço som bem alto no carro, coloco os óculos escuros e canto a caminho do trabalho. Sei atrair olhares. Nem todos são bons. Mas aprendi a lidar com isso. Faz parte.

Sou triste e sou alegre. Sou eu.

Eu sou mulher e sou modelo, atriz, cantora. Trabalho num lugar onde posso exercer tudo isso. Construí meu próprio palco.

Eu me acho poderosa, mesmo porque, é comigo que posso contar. Em alguns momentos percebo que a imagem que involuntariamente construí é diferente de mim, mas é parecida também e eu não tenho controle sobre isso.

Ás vezes acordo e penso: Hoje não tem foto. Hoje vou assim. Vestida dos meus sins e dos meus nãos. Vestida de mim mesma. Praticamente nua. Livre de falsas identidades e convidando você a se libertar também. Por quê?

Porque simplesmente sou mulher e não existe como viver sem mim.


Feliz dia Internacional das mulheres.

Crônica narrada e feita por uma mulher, mas adaptada e apreciada por um homem.


Fonte: Cris Guerra, modificado por mim.

2 comentários:

Pod papo - Pod música disse...

Olá, adorei a crônica! Feliz Dia Internacional das Mulheres.

Beijos

Pequena disse...
Este comentário foi removido por um administrador do blog.